Tipos de câncer relacionados às próteses de silicone
A Food and Drug Administration (FDA), órgão regulamentador dos EUA, emitiu um alerta para mulheres que possuem ou consideram a colocação de implantes mamários: é essencial estar ciente dos riscos associados a esse procedimento.
O alerta foi emitido em 2020, quando destacaram o BIA ALCL (linfoma de grandes células) e, em 2022, outros diferentes tipos de linfomas e o carcinoma de células escamosas.
Mas a relação das próteses com o desenvolvimento de certos tipos de câncer já vem sendo investigada e apontada em diversos estudos ao redor do mundo há anos.
Em 2011, a FDA identificou uma possível conexão entre implantes mamários e o linfoma anaplásico. Alguns anos mais tarde, em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) veio a reconhecer oficialmente o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (BIA-ALCL) como um tipo distinto dentro do espectro dos linfomas.
Embora seja classificado como uma ocorrência rara, desde então tem-se observado um aumento preocupante no número de casos relatados globalmente. Esse aumento acendeu o alerta na comunidade científica e médica para a necessidade de investigações mais profundas e detalhadas sobre essa patologia e sua relação com as próteses.
No entanto, não se sabe se os números eram menores porque era algo raro ou se era subnotificado.
Entendendo o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (BIA-ALCL)
Em 1997, a comunidade médica se deparou com algo inédito: o primeiro registro de um Linfoma Anaplásico de Grandes Células (BIA-ALCL), cujos casos subsequentes, predominantemente, emergiram em pacientes portadores de implantes mamários texturizados.
A International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) revelou que dos 35 milhões de indivíduos com próteses mamárias ao redor do mundo até 2020, foram reportados 573 diagnósticos desta condição.A OMS (Organização Mundial de Saúde) já reconhece a relação do linfoma com as próteses desde 2016. Além disso, o próprio manual das próteses indica as possíveis complicações como o BIA-ALCL, doenças autoimunes, entre outras.
Pesquisas apontam que o BIA-ALCL possivelmente se origina como uma reação imunológica à inflamação crônica provocada pelo próprio implante. Esse processo envolve a proliferação descontrolada das células T e sua transformação em células antigênicas, capazes de desencadear uma cadeia de eventos inflamatórios crônicos ao redor da prótese, podendo levar a alterações genéticas e displasia em pacientes com certas susceptibilidades genéticas.
O biofilme bacteriano presente nos implantes texturizados é visto como principal fator desse desfecho. Outros fatores incluem contratura capsular, trauma repetido na cápsula ou predisposição genética. As mulheres diagnosticadas com BIA-ALCL têm em média 52 anos e o linfoma geralmente é detectado cerca de nove anos após a inserção da prótese.
Quanto aos sinais clínicos, inchaço mamário ocasionado por seromas peri-protéticos espontâneos e nódulos associados à cápsula da prótese são os sintomas mais recorrentes. Dor, assimetria das mamas e vermelhidão podem também ser indicativos da doença. Embora menos frequente, linfadenopatia também pode ocorrer.
Em termos terapêuticos, a remoção do implante e das cápsulas é medida primordial no tratamento do BIA-ALCL. A detecção precoce oferece um prognóstico favorável na luta contra este linfoma.
Carcinoma de Células Escamosas e próteses de silicone
O carcinoma de células escamosas, também conhecido como carcinoma espinocelular, é um tipo de tumor maligno originado das células da epiderme. No entanto, estudos mostram que essas células podem se desenvolver no tecido mamário e evoluir para um câncer.Durante procedimentos de implante mamário, fragmentos de pele podem inadvertidamente ser inseridos junto ao silicone. Sob a influência de uma inflamação crônica na região, esses fragmentos podem sofrer transformações que culminam em sua malignização.
A relação exata entre o carcinoma de células escamosas e os implantes mamários de silicone ainda é matéria de estudo e discussão na comunidade médica. Sinais clínicos desse tipo de câncer incluem sintomas como aumento do volume da mama, dor localizada e rigidez do tecido.
É interessante notar que esse tipo específico de neoplasia não apresenta maior incidência com qualquer modelo particular de prótese – diferentemente do linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL), que demonstrou maior frequência em próteses com superfície texturizada.
Em setembro de 2022, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos alertou o público sobre casos reportados envolvendo cânceres, incluindo o carcinoma espinocelular e vários tipos de linfomas diferenciados do BIA-ALCL já mencionado em comunicados prévios.
No tocante ao tratamento do carcinoma espinocelular associado a implantes mamários, ele pode ser mais complexo do que simplesmente remover o implante afetado. Em alguns casos, pode ser necessária a ampliação da cirurgia além da cápsula e a aplicação subsequente de terapias adjuvantes tais como quimioterapia e radioterapia para combater eficazmente a doença.
As próteses de silicone causam câncer de mama?
Ainda não se sabe exatamente qual relação do câncer com os implantes. Acredita-se que o processo inflamatório crônico que ocorre com o gel bleeding (vazamento do silicone) é um estímulo capaz de alterar as células.
Portanto, mesmo sem conhecer a causa exata, órgãos de referência no mundo todo validam a relação dos implantes de silicone com alguns tipos de tumor.
O que é importante saber antes de colocar as próteses ou de desenvolver doenças
O recente comunicado da FDA chama atenção para outros riscos potenciais menos documentados mas igualmente preocupantes, como o carcinoma espinocelular e variantes adicionais de linfoma encontrados na cápsula cicatricial ao redor dos implantes.
Mulheres com implantes devem estar atentas a sinais como inchaço, dor, nódulos ou alterações cutâneas – sintomas que podem surgir anos após a cirurgia. Embora esses indícios não confirmem um diagnóstico imediato de câncer, eles exigem investigação médica detalhada e acompanhamento rigoroso.
É importante destacar que o Brasil é um dos principais países em número de cirurgias de implante mamário, realizando cerca de 13% do total mundial. Mesmo assim, observa-se um declínio global na procura por esse tipo de procedimento estético; enquanto aumenta a quantidade de cirurgias para remoção dos implantes.
Apesar dessas advertências, a FDA não recomenda a remoção preventiva dos implantes mamários, mas enfatiza a importância do monitoramento constante e da consulta médica diante de qualquer anormalidade percebida pelas pacientes.
Além disso, é vital reconhecer que introduzir um corpo estranho no organismo acarreta riscos elevados. Em resposta às preocupações emergentes sobre segurança, a FDA atualizou os rótulos dos implantes nos Estados Unidos para informar sobre possíveis conexões com condições médicas crônicas variadas, desde doenças autoimunes até sintomas como dor nas articulações e fadiga crônica.
Relatos apontam complicações significativas em uma parcela das mulheres submetidas à cirurgia plástica para aumento ou reconstrução mamária. As estatísticas refletem desafios reais enfrentados por aquelas que optam por implantar silicone: questões imunológicas complexas podem emergir como parte das consequências dessa escolha.
Em resumo, o conhecimento é fundamental. Mulheres munidas com as informações corretas podem tomar decisões mais conscientes sobre sua saúde e bem-estar.
Dra FABIANA CATHERINO
CRM/SP 121444
RQE 39248
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica