Síndrome da Bexiga Dolorosa
SÍNDROME DA BEXIGA DOLOROSA
A Síndrome da Bexiga Dolorosa ou Cistite Intersticial é uma condição inflamatória crônica, ou seja, permanente, da parede da bexiga que leva a dor pélvica, vontade constante de urinar (urgência miccional), aumento da frequência urinária e urinar mais de 2 vezes no período noturno (noctúria). Pode apresentar hematúria (sangue na urina).
É um quadro muito semelhante ao da infecção urinária. Devido ao processo inflamatório, a dor geralmente é mais severa quando a bexiga está repleta de urina e pode aliviar com o esvaziamento vesical. Essa condição leva a uma redução importante da qualidade de vida, pois gera um desconforto contínuo, causando dor e pressão na pelve, ansiedade, consequentemente perda da libido e da vontade de se relacionar socialmente.
A maioria das pacientes são mulheres da raça branca em torno de 40 anos.
Ainda não é uma doença muito conhecida e suas causas também não estão completamente esclarecidas. Mas acredita-se que a fisiopatologia envolve uma disfunção do epitélio urinário que passa a produzir algumas substâncias formadoras do muco vesical de forma ineficientes. Esta falha na proteção do muco vesical ao revestimento da bexiga propicia o contato direto das toxinas da urina com a parede vesical desencadeando a patologia.
Também há a discussão de a doença ser consequência a neuropatia que acomete as doenças autoimunes em atividade. Nesse caso é onde se enquadra a cirurgia plástica, quando falamos em Síndrome Asia. Muito comum esse quadro ocorrer em pacientes que tem próteses de silicone e por vezes outros adjuvantes como DIU.
Só que além da doença autoimune, apesar de ainda não reconhecida, há a doença do silicone. Nessa não há questão autoimune envolvida, mas sim o fato de que os implantes de silicone, independentemente da marca, modelo, mesmo entando íntegros, estão vazando pelo invólucro, liberando nanopartículas de silicone que passam através das cápsulas e migram para todo o organismo (o chamado gel bleeding). Quanto mais tempo os implantes estão no seu organismo, mais o invólucro da prótese se degrada e torna-se mais poroso, aumentando a permeabilidade e o vazamento de silicone. Esse irá migrar pelo corpo e se acumular nas células sendo altamente reativas e causando toxicidade, alterando a bioquímica celular, danificando tecidos e ser mais uma das explicações que geram esses sintomas nas pacientes com a doença do silicone (breast implant illness).
Também é frequente ocorrer em pacientes com quadro de fibromialgia associado.
O diagnóstico deve ser baseado na presença de dor pélvica crônica além de pressão, dor ou desconforto vesical e um ou mais sintomas como urgência urinária ou frequência miccional. Pode ter infecção associada, mas a doença em si é um quadro INFLAMATÓRIO! O exame de urina costuma ser NORMAL!!!
A queixa mais comum é de dor em baixo ventre com sensação de peso associada a sintomas urinários irritativos: urgência, frequência, disúria e noctúria. Podem também estar presentes: dispareunia (dor à relação sexual) e dor na vagina.
O quadro pode se agravar no período menstrual, após relação sexual, após ingesta de alguns tipos de alimentos ou após atividade física. Mas em muitos casos não é possível identificar o gatilho.
Após avaliar a clínica da paciente é essencial a exclusão de outras doenças como carcinoma de bexiga (câncer), doenças infecciosas (infecção urinária, Chlamydia trachomatis, micoplasma, herpes vírus, HPV), prolapsos, endometriose, candidíase vaginal, divertículo, câncer ginecológico, retenção urinária, dor relacionada ao nervo pudendo ou à musculatura do assoalho pélvico.
Inicia com a orientação da paciente em relação ao diagnóstico, manejo e prognóstico da patologia. É fundamental que a paciente compreenda que o tratamento visa o alívio dos sintomas, não existe um tratamento curativo específico e que a doença é potencialmente crônica.
No entanto, devemos nos lembrar que se essa doença estiver sendo mantida por uso de adjuvante, o tratamento inicial é a retirada do mesmo, seja o DIU, realizar explante de próteses ou de todo e qualquer adjuvante que possa estar sendo fator causal.
Os principais objetivos do tratamento devem ser maximizar o controle dos sintomas e melhorar a qualidade de vida, além de evitar efeitos adversos e complicações.
A abordagem inicial deve priorizar qualidade de vida da paciente. Muitas vezes, se a indicação é o explante do silicone, a paciente pode não ter como se submeter a essa cirurgia inicialmente e precisamos usar de estratégias para tentar melhorar sua condição clínica até que a cirurgia se realize.
Orientações à paciente como modificações dietéticas, aumento da ingesta hídrica, orientação do hábito miccional, manejo do stress são recomendados como primeira linha de tratamento. Lembrar que mesmo que haja distúrbio psicológico, esse NÃO é a causa da síndrome, mas pode agravar seus sintomas.
Há uma expectativa de melhora significativa em 45-50% dos pacientes somente com medidas de aconselhamento e suporte. Mais de 90% dos pacientes tem exacerbação dos sintomas após a ingesta de certos alimentos e bebidas. Os alimentos que podem desencadear sintomas são: café, chá, frutas cítricas, bebidas carbonatadas e alcoólicas, bananas, tomates, comidas apimentadas, adoçantes artificiais, vitamina C e produtos derivados do trigo.
Fisioterapia do assoalho pélvico pode ser recomendada para pacientes com disfunção do mesmo. Muitas vezes essa disfunção da musculatura do assoalho pélvico se deve ao aumento do tônus muscular. As mulheres que têm desconforto nessa região durante o exame físico, podem se beneficiar da fisioterapia.
Algumas medicações podem também favorecer uma estabilidade de melhora como antidepressivos tricíclicos que são indicados com base em suas propriedades analgésicas, anti-histamínicas, anticolinérgicas e sedativas, bem como pela sua ação no tratamento da depressão. A amitriptilina é uma boa opção para tratamento se houver falha das terapias conservadoras iniciais.
Ainda há medicamentos imunoterápicos que auxiliam em alguns casos (p.e. urovaxon), analgésicos, antiinflamatórios ou ainda medicamento que funciona como um anticoagulante (como elmiron)
Outra opção de uso oral seria a cimetidina. Os sintomas com melhor resposta ao uso da cimetidina foram a dor suprapubica e a noctúria. Mas essa terapêutica necessita de mais estudos.
Baseado no sucesso do tratamento de outras condições que levam a dor neuropática, a gabapentina pode ser uma opção de tratamento em pacientes refratárias a outras terapêuticas. Essa medicação também necessita de mais estudos.
Doutora Fabiana Catherino